sábado, 31 de janeiro de 2009

Boa noite Sr. Soares: o momento da verdade

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A tarefa não se adivinhava fácil. Gerar um debate interessante em torno da misteriosa figura do Sr. Soares? Caramba! Chega-se ao fim do livro sem conhecer de facto o Sr. Soares, vamos falar de quê? Dos heterónimos de Fernando Pessoa, quando a maioria das pessoas tem péssimas recordações dessas aulas de português. A culpa não será do Pessoa, mas debates literários e teóricos não devem fazer uma discussão muito animada, quando se quer um grupo de leitura informal...

Pronto, estava oficialmente preocupada. Felizmente estava enganada. É que o Sr. Soares estava rodeado de personagens tão interessantes, que depressa se gerou uma enorme conversa em torno dos defeitos e feitios destas figuras que desfilavam ao lado do protagonista. Desde o senhor que adorava comer, ao sonhador-viajante que era o António, à sua família, da pobre da irmã ao intragável cunhado, do primo brasileiro pé-descalço armado em ricaço e à sobrinha que só com cinco anos, revela um humor negro extraordinário; todos foram tema de conversa que deu pano para mangas. E aquela Lisboa onde viviam, tão bem caracterizada pelo autor, fez-nos imaginar a caminhar pela rua dos Douradores e a espreitar para o escritório do Sr. Soares. Lá estava o calendário da Senhora do decote com os seus lábios vermelhos e o barquinho de papel que ele fez para o António…

Ainda houve tempo para discutir qual dos Heterónimos do Pessoa, era mais normal, sem claro, conseguirmos chegar a conclusão alguma… Assim nos despedimos do enigmático Sr. Soares e passamos a discutir o senhor que se segue. Venha o “Estranho numa terra estranha”!

1 comentário:

  1. Só a Branca de Neve podia escrever assim...

    "Estava oficialmente preparada..."...a serigaita do andar de baixo que tocava piano durante o dia... enquanto em tentava esquecer aquele barulho infernal... de uns gritos e depois de um pingo como de sangue que não parava...

    Felizmente ...tocou-me o António à porta. Trazia o "Livro do Razão!...e eu tinha os documentos todos comigo em casa. Embrulhei os pulsos numa toalha...não o deixei entar...a casa estava imunda...e o sangue escorria pelo corredor.

    Olhei-o nos olhos e sem hesitar...dei-lhe uns trocos que tinha no roupão. Mandei-o beber um copo...olha António...bebe um copo à nossa saudade! Amanhã voltas cá há mesma hora e está tudo pronto!

    - Sim...disse-lhe apesar de achar que o Senhor Soares não estava nos melhores dias. Ele manteve sempre um olhar imóvel. Pronto...Bom dia Senhor Soares...vá para dentro...não apanhe mais frio!

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