sábado, 30 de maio de 2009

A Gramática da Língua Portuguesa

É o meu primeiro post neste blogue. Deixo um texto que recebi da minha amiga Leonor.
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Redacção feita por uma aluna de Letras, que obteve a vitória num concurso interno promovido pelo professor da cadeira de Gramática Portuguesa.

Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador.
Um substantivo masculino, com aspecto plural e alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. O artigo, era bem definido, feminino, singular. Ela era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal. Era ingénua, silábica, um pouco átona, um pouco ao contrário dele, que era um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanático por leituras e filmes ortográficos.
O substantivo até gostou daquela situação; os dois, sozinhos, naquele lugar sem ninguém a ver nem ouvir. E sem perder a oportunidade, começou a insinuar-se, a perguntar, conversar. O artigo feminino deixou as reticências de lado e permitiu-lhe esse pequeno índice.
De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro.
Óptimo, pensou o substantivo; mais um bom motivo para provocar alguns sinónimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeçou a movimentar-se. Só que em vez de descer, sobe e pára exactamente no andar do substantivo.
Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela no seu aposento.
Ligou o fonema e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, suave e relaxante. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela.
Ficaram a conversar, sentados num vocativo, quando ele recomeçou a insinuar-se. Ela foi deixando, ele foi usando o seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo.
Todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo directo.
Começaram a aproximar-se, ela tremendo de vocabulário e ele sentindo o seu ditongo crescente. Abraçaram-se, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples, passaria entre os dois.
Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula.
Ele não perdeu o ritmo e sugeriu-lhe que ela lhe soletrasse no seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, pois estava totalmente oxítona às vontades dele e foram para o comum de dois géneros.
Ela, totalmente voz passiva. Ele, completamente voz activa. Entre beijos, carícias, parónimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais.
Ficaram uns minutos nessa próclise e ele, com todo o seu predicativo do objecto, tomava a iniciativa. Estavam assim, na posição de primeira e segunda pessoas do singular.
Ela era um perfeito agente da passiva; ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular.
Nisto a porta abriu-se repentinamente.
Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo e entrou logo a dar conjunções e adjectivos aos dois, os quais se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas.
Mas, ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tónica, ou melhor, subtónica, o verbo auxiliar logo diminuiu os seus advérbios e declarou a sua vontade de se tornar particípio na história. Os dois olharam-se; e viram que isso era preferível, a uma metáfora por todo o edifício.
Que loucura, meu Deus!
Aquilo não era nem comparativo. Era um superlativo absoluto. Foi-se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado aos seus objectos. Foi-se chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo e propondo claramente uma mesóclise-a-trois.
Só que, as condições eram estas:
Enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria no gerúndio do substantivo e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.
O substantivo, vendo que poderia transformar-se num artigo indefinido depois dessa situação e pensando no seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história. Agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, atirou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva.

Fernanda Braga da Cruz

Aldous Huxley - Doors of Perception

Antes de entrar na Sombra do vento....

quinta-feira, 28 de maio de 2009

sombra do vento - memória


Comprei o livro ainda fresquinho no escaparate e ofereci-o de prenda de anos a um bom amigo. Leu e gostou muito. Depois pedi-lhe o livro mas a namorada andava a lê-lo e a gostar e já havia mais alguém na fila para a leitura do dito.
Meses mais tarde passeando o olhar pela biblioteca do sogro, descobri o livro, novinho em folha, arrumadinho para não mais sair dali. Resgatei-o e ao pedir licença para o “usar” o senhor disse-me que o livro era muito erótico … e até obsceno, com muitos palavrões. Isso aguçou-me a curiosidade … claro está.
Li-o de um sorvo … e fui a Barcelona umas semanas depois. Não encontrei o Carax, nem soube quem era o Daniel, muito menos descobri o cemitério dos livros, mas andei atenta a cheirar a cidade e os seus muitos mistérios. Andei à procura de dias de vento … mas o sol teimou em brilhar … e do vento, nem a sombra se via.


Linhas e páginas para descobrir com uma história bem esgalhada.

P.S. Não devolvi o livro ao sogro, nem o tenho arrumado, porque continua a passear por aí … qual vedeta de bookcrossing.

Para Junho … com as controvérsias que quisermos e que a Hopes permitir …

sábado, 16 de maio de 2009

Porquê "O Deus das Moscas"?


Escrito durante os primórdios da Guerra Fria e publicado em 1952, "O Senhor das Moscas" retrata a conflitualidade do pós-guerra, pois a história começa com a queda de um avião que tinha deixado a Inglaterra após um bombardeamento nuclear. Deste acidente, apenas um grupo de crianças sobrevive e, para serem resgatadas, elas estabelecem uma frágil sociedade "democrática". Entretanto, a luta pela liderança divide esta comunidade e instaura um violento conflito entre elas.

Esta obra de Golding pode ser interpretada sob várias perspectivas. Como uma analogia da luta entre a democracia, na qual todos podem ter voz, mas que, por outro lado, as decisões são arrastadas e controversas, e a ditadura, na qual um tirano estabelece um sistema hierárquico baseado na punição e no medo.

Entretanto, há uma mensagem mais profunda em "O Senhor das Moscas", já que ela pode representar os conflitos dentro da própria mente humana. Ralph é a consciência, porque todos seus esforços são o de manter a coerência no seu discurso e acções e de agir da maneira mais correcta para serem resgatados; Porquinho é a racionalidade; Jack, os instintos animalescos e primitivos; Simon, a contemplação e intuição. No fundo, Golding afirma que estas contradições não existem somente no interior de uma sociedade, cujo resultado extremo é a guerra, mas também no interior do próprio indivíduo.

E dito isto, penso que teremos pano para mangas... Um debate prometedor na última segunda-feira de Maio. A não faltar!

sábado, 2 de maio de 2009

feriados com cor


Têm uma especial cor estes feriados de Abril e Maio.

Vestem-se de cores e cheiros, com sabor a tempos que já foram, continuam a ser...e serão ainda...Primaveras por inventar.

Vestem-se de cores várias, canções várias e quando o Domingo chegar ... ficamos à espera das cores e dos cheiros dos feriados de Junho...bandeirinhas com mais cores, discursos mais da nossa "pátria", cheiros da "fátria" adormecida e acordada pelo sol que teimosamente vai brilhando. Depois virão os cheiros das sardinhas, as cores das marchas e os festejos da cidade, que agora ainda se veste de livros e curtas.

E eu ainda apaixonada por esta Lisboa! E eu ainda apaixonada!

A City Lights Bookstore estará pronta para albergar novos eventos daqui a nada. (Diz o Fokas que é sábio ...:-)
Estou só a respirar os cheiros instalados e a adivinhar vaidosa os que se avizinham. E gosto de ciclos reinventados.

Até ao Deus das Moscas!

poulana