segunda-feira, 9 de março de 2009

O Velho que Lia Romances de Amor



Vamos ler em Março a história que Luís Sepúlveda escreveu em 1989 e que a revista “Lire”, dirigida por Bernard Pivot, considerou um dos 20 melhores livros de 1992 e foi por outros considerado um dos melhores livros da década de 90.
Não é pois…. uma obra menor que seja comparável a qualquer outra. Se vendeu mais até hoje do que alguns autores “mainstream“… o que aliás não é crime nenhum…é porque o livro tem alguma coisa que mexe com os leitores.
Concebido como um romance de aventuras e como uma homenagem ao mundo amazónico, hoje permanentemente agredido, “O Velho que Lia Romances de Amor” conta a história de António Proaño, um homem que vive numa aldeia isolada, no interior da floresta e que um dia é forçado a partir em perseguição de um predador que assola as proximidades, atacando pessoas e animais.

Traduzida já em mais de 14 países, esta obra foi adaptada ao cinema. Sepúlveda dedicou este livro ao seu amigo Chico Mendes, já assassinado, um herói na defesa da Amazónia.

“O seu companheiro de vigia, via-o percorrer com a lupa os sinais arrumados no livro.
- É verdade que sabes ler?
- Alguma coisa.
- E que é que estás a ler?
- Um romance. Mas cala-te. Se falas, a chama mexe-se e mexem-se as letras.
O outro afastou-se para não estorvar, mas era tal a atenção que o velho prestava ao livro que não suportou ficar-se à margem.
- De que é que trata?
- Do amor.
Perante a resposta do velho, o outro aproximou-se com renovado interesse.
- Não me lixes. Com fêmeas ricas, das que fervem?
O velho fechou o livro num repente fazendo tremer a chama do candeeiro.
- Não. Trata-se do outro amor. Do que dói “.

(Luís Sepúlveda in, O Velho que lia romances de amor)

3 comentários:

  1. ainda hoje guardo ... num qualquer canto da memória, uma imagem do velho desdentado e da imensa ternura que senti por ele quando li o livro. guardo também a memória de um certo dentista que não era muito diferente.
    vou com prazer, reler o livro. adoro reler romances ... com amor.

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  2. pois... o dentista não era muito diferente do que me acompanhou na infância...

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  3. “Ninguém consegue atar um trovão e ninguém consegue apropriar-se dos céus do outro no momento do abandono”. As verdades são sempre relativas, mas esta é uma verdade.

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